Sobre Di Maria

  1. Di Maria é um dos futebolistas mais importantes do século no panorama mundial, curiosamente também um dos mais subvalorizados. De entre todos os jogadores que passaram pelo Benfica neste século, e apesar de termos tido jogadores que mais tarde se tornaram dos melhores do mundo (ou até o melhor) na sua posição (como Rúben, Bernardo, Matic, Cancelo ou Oblak), arrisco-me a dizer que Di Maria foi aquele que atingiu o patamar mais alto durante mais tempo.
  2. Ao longo dos anos, ouvi muitas vezes jogadores fazer juras de amor e dizer de que gostariam de regressar ao Benfica um dia. No entanto, enquanto estes jogadores têm mercado nas ligas big 4 ou enquanto houver propostas com salários milionários, quase nenhum jogador aceita voltar ao Benfica. Por outro lado, quando aceitam voltar, voltam apenas numa altura em que o nível futebolístico é muito mais baixo e, nessa altura, é ao Benfica que não interessa o regresso. Assim sendo, neste século, contam-se pelas mãos os regressos mediáticos ao Benfica: Nuno Gomes em 2002, Rui Costa em 2006, e Guedes em 2023. Di Maria tornou-se o quarto a fazê-lo. Curiosamente, não me lembro de nenhuma entrevista ou declaração passada dele em que explicitava essa intenção.
  3. Para mim, mais importante que as palavras são os atos, e Di Maria mostrou com atos aquilo que muitos apenas deixam em palavras. Não querendo de todo destratar Nuno Gomes, Rui Costa e Guedes, sobretudo o primeiro que regressou no auge da sua carreira, Di Maria merece uma gratidão extra por ser estrangeiro. Um estrangeiro que regressa ao Benfica demonstra não apenas respeito e gratidão pelo Sport Lisboa e Benfica, como demonstra que verdadeiramente percebeu a grandeza do Sport Lisboa e Benfica. Isso é muito raro, sobretudo num futebolista com o currículo de Di Maria.
  4. É claro que o Di Maria que regressou ao Benfica não foi o mesmo que nos deixou rumo ao Real Madrid. É óbvio que tratando-se um extremo de rasgo, os 36 anos pesam. Contudo, mesmo mais velho, Di Maria continuava a transpirar classe por todos os poros. Aliás, há pouco mais de um ano, era titular e marcava na final do Campeonato do Mundo. Por um lado, este Di Maria continuava a ter mercado nos grandes palcos europeus, tanto que, segundo consta, enfrentámos a concorrência do Barcelona. Por outro lado, se as suas prioridades fossem outras, havia propostas milionárias à espera do argentino. Apesar disto tudo, Di Maria regressou ao Benfica.
  5. Não vale a pena tapar o sol com a peneira. Efetivamente, desportivamente, houve problemas evidentes. Di Maria tem 36 anos, por isso, obviamente, fazer 90 minutos sobre 90 teve impactos. E claro, Di Maria tem culpa na forma como foi gerido. Aquelas declarações no pós-Bessa foram lamentáveis, ainda para mais quando a mexida feita por Roger Schmidt, à data, fez todo o sentido. Apesar disso, há que dizer que o principal culpado por esta má gestão não é, obviamente, o argentino. Numa estrutura hierárquica como a do Benfica, os líderes têm que liderar, têm de ter tomates quando as circunstâncias assim o exigem.
  6. Apesar destes problemas, Di Maria foi claramente um dos poucos grandes jogadores do Benfica 2023/2024. Diz-se, e com razão, que Di Maria não defendia. É evidente que isso é verdade, mas ofensivamente Di Maria é um génio. Até em jogos onde este apagado, do nada, sacava coelhos da cartola e resolvia. Por exemplo, em Alvalade na Taça, Di Maria estava a fazer um jogo desastrado. Numa questão de minutos, deu um golo e marcou outro (a meu ver, injustamente anulado por fora de jogo posicional de Tengstedt, o que não retira o mérito de Di Maria). Também se diz, com menos razão, que descompensava a equipa e que por isso impedia o gegenpressing de Schmidt, mas Di Maria jogou no lugar que no ano passado pertencia a Neres, que também não é conhecido por defender muito. Talvez o problema tenha sido outro, nomeadamente, a substituição de jogadores fulcrais como Enzo, Ramos e Grimaldo por jogadores que não se adequam ao modelo. Tendo isto dito, enquanto houve pernas, Di Maria foi um dos esteios deste Benfica, e quando deixou de haver, o Benfica ressentiu-se imenso. Por outras palavras, um jogador que tem participação direta em 30 golos não é nem nunca pode ser considerado um estorvo.
  7. Não sei se Di Maria continuará ou sairá. Sendo dado adquirido que Roger Schmidt ficará, creio que a sua saída é mais vantajosa para o Benfica, porque claramente Schmidt não tem mão firme para lidar com ele, e porque Rui Costa é um líder frouxo incapaz de dar suporte a Schmidt nas alturas difíceis. Assim sendo, não se perspetivando alterações na hierarquia, a tendência é os problemas que existiram este ano agravarem-se. Não obstante, não tenho dúvidas que Di Maria continua a ser um asset e dos grandes. De entre as inúmeras coisas com as quais estou em desacordo com a gestão do Benfica, uma permanência do argentino seria claramente daquelas que eu colocaria no fundo da minha lista de irritações.

Em suma, qualquer que seja a decisão de Di Maria, agradeço profundamente o carinho e o respeito com que nos tratou e, estou certo, continuará a tratar. Di Maria não tem culpa da convulsão interna que se vive no Benfica, por isso, o facto de as coisas não resultaram como todos queríamos não apaga em nada a imagem que tenho dele, uma imagem bastante positiva.

1 thoughts on “Sobre Di Maria

  1. o problema é que a má gestão física do di maria nada teve a ver com as suas declarações, muito menos com a falta de coragem do treinador para o colocar no lugar, só acredita nisso quem quer.

    desculpa um treinador com um feitio como o deste treinador que entrou em conflito com o odysseas, sem necessidade, que afronta os adeptos, quando nada de bom disso vem para ele e para a equipa, e depois não tem coragem de afrontar o di maria não venham com essa que não cola.

    a gestão que foi feita este ano ao di maria foi a mesma que foi feita o ano passado ao joão mario, com a agravante que o ano passado o joão mario desgastado deixou de ser decisivo por completo ao contrario do di maria que passou, por desgaste, a ser menos decisivo.

    e foi a mesma gestão que foi feita o ano passado com o rafa que desde outubro a abril esteve completamente ausente da equipa sem no entanto ter deixado de ser titular em todos os jogos.

    o di maria foi a desculpa encontrada pelos especialista da bola a serio para justificar os erros do treinador na forma como a equipa jogou, ou no caso não jogou, porque se eles percebessem de futebol viam a equipa não jogou e nunca foi um colectivo não por culpa do di maria mas por culpa de outras decisões do treinador, a principal até a composição da dupla de meio campo e a ausência do aursnes no meio campo.

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